Há três amores que são inexplicáveis na vida de um homem: o
amor à pátria, o amor à fé e o amor ao futebol. Um francês pode morar no
Brasil, na Espanha, nos Estados Unidos ou na China, mas ele ainda vai estar,
dentro dele, morando na França. Onde quer que seja sua residência, ele vai
tomar café como francês, e almoçar como francês, e falar como francês, e amar
como francês. Ele pode falar mal de seu país, e de como as escolas são péssimas
e que o governo não dá a mínima para a população, mas se alguém levantar um
dedo contra a pátria dele, o francês vai levantar todos os dedos para
defendê-la. Não porque ele muda de ideia
rapidamente, ou porque ele é xenófobo, ou porque a França é o melhor lugar do
mundo. Mas simplesmente porque ele é francês.
Um cristão é cristão porque ele acredita. Nada explica sua
fé. Se for necessário explicar em termos humanos uma oração, a existência de
Deus ou um simples costume, já não faz mais sentido. Tudo que é espiritual não
pode ser explicado racionalmente. E só entende o poder de uma oração quem entende
o poder de uma oração. Só se entende o que é ter fé quando se tem fé. Tudo que
vai além disso, não é suficiente para explicar o porquê de todas essas coisas.
Se não é possível explicar o amor à pátria ou o amor à fé,
porque seria então explicável o amor ao futebol? Uma vez Flamengo, sempre
Flamengo. Salve o tricolor paulista. Salve o Corinthians. Salve o futebol. Só quem
já foi a um estádio, e ficou com o coração na mão naquela cobrança de falta que
no fim não deu em nada mais que um escanteio, sabe o que é o amor ao futebol. Só
o torcedor que já foi campeão regional ou nacional ou internacional sabe qual é
a sensação de torcer por um time. É por isso que ele olha tão feio para a
namorada que diz que “é apenas um jogo, amor”. Não é apenas um jogo, do mesmo
jeito que não é apenas uma oração, ou apenas um país. É o que é: uma daquelas
coisas na vida que ninguém consegue explicar.
-Carla Medeiros
-Carla Medeiros
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