domingo, 18 de novembro de 2012

Inexplicável


Há três amores que são inexplicáveis na vida de um homem: o amor à pátria, o amor à fé e o amor ao futebol. Um francês pode morar no Brasil, na Espanha, nos Estados Unidos ou na China, mas ele ainda vai estar, dentro dele, morando na França. Onde quer que seja sua residência, ele vai tomar café como francês, e almoçar como francês, e falar como francês, e amar como francês. Ele pode falar mal de seu país, e de como as escolas são péssimas e que o governo não dá a mínima para a população, mas se alguém levantar um dedo contra a pátria dele, o francês vai levantar todos os dedos para defendê-la. Não porque ele  muda de ideia rapidamente, ou porque ele é xenófobo, ou porque a França é o melhor lugar do mundo. Mas simplesmente porque ele é francês.
Um cristão é cristão porque ele acredita. Nada explica sua fé. Se for necessário explicar em termos humanos uma oração, a existência de Deus ou um simples costume, já não faz mais sentido. Tudo que é espiritual não pode ser explicado racionalmente. E só entende o poder de uma oração quem entende o poder de uma oração. Só se entende o que é ter fé quando se tem fé. Tudo que vai além disso, não é suficiente para explicar o porquê de todas essas coisas.
Se não é possível explicar o amor à pátria ou o amor à fé, porque seria então explicável o amor ao futebol? Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. Salve o tricolor paulista. Salve o Corinthians. Salve o futebol. Só quem já foi a um estádio, e ficou com o coração na mão naquela cobrança de falta que no fim não deu em nada mais que um escanteio, sabe o que é o amor ao futebol. Só o torcedor que já foi campeão regional ou nacional ou internacional sabe qual é a sensação de torcer por um time. É por isso que ele olha tão feio para a namorada que diz que “é apenas um jogo, amor”. Não é apenas um jogo, do mesmo jeito que não é apenas uma oração, ou apenas um país. É o que é: uma daquelas coisas na vida que ninguém consegue explicar.

-Carla Medeiros

domingo, 11 de novembro de 2012

Incompleto


Meu sorriso é sincero.
É um meio sorriso,
Metade alegre
Metade contido.
E assim é verdadeiro,
Sem inteiros
Nem rodeios,
Imcompleto sim
Como a vida.

-Carla Medeiros

domingo, 4 de novembro de 2012

A casinha

Aquela casinha
Tão distante e sozinha
É ainda o que foi,
E me espera em uma tarde veraneia,
Com um sorriso
E uma cadeira
Para sentar na calçada
Ao fim do dia
E olhar a criançada
Com uma alegria
Que é tão cansada,
Como a velha casa
Que insiste em sorrir
Sem nem mais existir.
E os papeis se invertem assim:
A casinha agora mora em mim.

- Carla Medeiros