quarta-feira, 14 de março de 2012

O Ventilador Azul

O aquecedor vira-se a mim
e assopra seu hálito quente e saudoso sobre meu rosto.
Faz-me lembrar de tardes veraneias
que pairam sobre minha memória;
tardes que me encaram enquanto eu penso.
Dias distantes são aqueles em que o ventilador barulhento
espalhava o ar morno e o assoprava sobre tudo.
Suas hélices tinham cor! Sim, eram azuis!
Toc-toc, e o calor aumentava.
Toc-toc-toc, e meus cabelos moviam-se.
Tec-tec, e o mundo parava.
Mas que boas eram aquelas tardes quentes,
Cheirando à chavena de café com leite
Que nos deixava mais quentes ainda.
Aquelas tardes cheiravam também à preguiça,
Que nos deixava mais cansados ainda.
Toc-toc, toc-toc-toc, tec-tec.
O mundo girava à nossa velocidade
E nos fazia cócegas com suas milhares de histórias.
O ventilador azul era emprestado do vizinho,
Como o açúcar que engrossava a chávena de café com leite
Que nos deixava mais quentes.
O nome do vizinho não me vem à cabeça,
Mas o vento do aquecedor neste momento
Me lembra da decepção do vizinho,
Dono do ventilador,
Quando tal fez tec-tec.
Uma ou duas discussões até que fosse resolvido
Como se resolveria aquele calor jundiaiense.
Ao tentar resolver o caso do ventilador,
Esfriaram-se as chávenas de café com leite
que nos deixavam mais quentes,
E um novo café foi coado.
-          Mais açúcar, seu João, por favor!
Ah sim! O vizinho chamava-se João
E nunca nevaga favores,
Por isso os fazia cordialmente.
Aquelas tardes foram autênticas e nunca deixarão de ser.
Ainda lembro do ar quente que pairava sobre nossas cabeças,
Esperando alguém desenhar no chão uma amarelinha
Com o giz que roubara da professora.
E o ar se espalhava esperando que o ventilador
fizesse tec-tec mais cedo ou mais tarde.
E tudo isso se fez, como um dia tudo se fará,
Até virar saudade como o vento quente
Que agora me aquece,
Esperando que eu viva novamente
Uma tarde como aquelas do ventilador azul.

-Carla Medeiros